Realizado no dia seguinte à divulgação pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) do relatório da situação da doença no mundo, que apontou que entre 60% e 70% dos novos casos estão localizados na Ásia, África, Américas do Norte e Sul, o evento foi uma oportunidade única para a discussão sobre as diversas urgências da saúde pública e privada em oncologia no país.
O impacto da prevenção primária, os desafios para a garantia de acesso rápido e de qualidade, o papel da ANVISA na garantia de acesso, a pesquisa clínica, o suporte multidisciplinar e a infraestrutura ideal para o diagnóstico e tratamento foram apenas alguns dos temas explanados e debatidos pelas maiores autoridades em oncologia do país, tais como Ministério da Saúde, ANVISA, ANS, CONASEMS, gestores de importantes hospitais, entidades médicas e científicas.
Ficou muito evidente aos debatedores e à plateia de mais de 250 pessoas que além de melhorar a qualidade do atendimento prestado no país, aumentando o acesso a tratamentos rápidos e de qualidade, será fundamental a criação de estratégias de prevenção primária.
"Temos sim que lutar por mais recursos em saúde, melhoria na gestão e no atendimento. Porém, para enfrentar a epidemia de câncer, precisamos fazer prevenção primária. Evitar o câncer e diagnosticá-lo quando as chances de cura são grandes e o tratamento é imensamente mais barato", aponta a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.
Confira alguns destaques das discussões.
Pesquisa Conhecimento do Câncer no Brasil - O Instituto Oncoguia apresentou no evento os resultados da pesquisa realizada pelo Datafolha que avaliou o conhecimento do brasileiro sobre o câncer. A pesquisa encomendada pela entidade e a American Cancer Society aclarou que o brasileiro tem muitos equívocos e dúvidas sobre o que é o câncer, seus principais fatores de risco e formas de prevenção.
A maioria dos entrevistados considera que a principal causa de mortes no Brasil é o câncer, quando, na realidade, são as doenças cardiorrespiratórias. Isso aponta que há ainda um grande estigma em torno da doença. Também, chama muita atenção o fato de que os brasileiros não consideram a exposição excessiva ao sol um fator de risco importante, quando o câncer de pele é a neoplasia mais incidente no país.
Pesquisa Clínica - Integrantes da Sociedade Brasileira de Profissionais de Pesquisa Clínica (SBPPC), da Aliança Pesquisa Clínica Brasil (APCB) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), entre outros, discutiram o panorama atual da pesquisa clínica no Brasil e os entraves no processo de aprovação de protocolos, que colocam o país em situação de desvantagem.
O Brasil é um dos países do mundo que mais demora para aprovar protocolos; enquanto o tempo médio nos Estados Unidos é de 6 meses, aqui é de um ano. Isso faz com que muitas pesquisas não cheguem ao território, impedindo que centenas de pacientes recebam tratamento de ponta.
Pesquisadores presentes consideram que a pesquisa clínica no Brasil "está na UTI". O coordenador da CONEP, Dr. Jorge Venâncio, concorda que há muitos pontos críticos. No entanto, informou que a nova gestão está revendo processos a fim de agilizá-los. Ele afirmou que até meados deste ano a CONEP estará cumprindo prazos.
O Papel da ANVISA na Garantia de Acesso a Tratamentos - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária esteve presente no evento para explicar aos participantes como se dá o processo de aprovação de medicamentos e tecnologias no país. Levou a relação de terapias para o câncer submetidas à análise por indústrias farmacêuticas no ano passado, e apontou as razões pelas quais foram aprovadas ou não.
O diretor de uma importante empresa de consultoria em análise de estudos clínicos, Otávio Clark, questionou a coerência entre diversas decisões de registro de produtos para a saúde tomadas pela ANVISA. Para Clark, é difícil compreender como alguns medicamentos aprovados no mundo inteiro não passam pelo crivo da ANVISA. Ele citou o caso da lenalidomida, terapia para o mieloma múltiplo aprovada em mais de 80 países, mas não aqui. A boa notícia dada pela ANVISA é que o caso da lenalidomida está em revisão pela Agência.
Acesso a Suporte Multidisciplinar - O suporte multidisciplinar está presente e estruturado em muitos países (Como Canadá, EUA, Europa etc.), porém aqui está hoje tão distante da realidade dos pacientes que ainda é tratado como 'conceito'. O Instituto Oncoguia reuniu profissionais de odontologia, fisioterapia, nutrição, psiquiatria, psicologia e oncogeriatria para falarem sobre a sua prática na oncologia.
A oncogeriatra Ana Cláudia Arantes levou informações sobre os Cuidados Paliativos, prática multidisciplinar da saúde destinada aos cuidados de pacientes em situação de terminalidade da vida. Lançando mão do uso de medicamentos, exceto aqueles que evitam a dor, os cuidados paliativos promovem qualidade de vida e dignidade a esses pacientes.
Sobre o Instituto Oncoguia
O Instituto Oncoguia é uma entidade sem fins lucrativos com sede na capital paulista, fundada em 2009, que tem como missão ajudar o paciente com câncer a viver melhor. Composta por equipe multidisciplinar de profissionais da área da saúde, direito e comunicação, o Instituto Oncoguia desenvolve projetos em 4 núcleos: Educação em Saúde; Apoio ao Paciente, Advocacy e Informação de Qualidade. Dentre os principais projetos estão o Portal Oncoguia (o maior e mais completo canal brasileiro de informações em oncologia), o Programa Navegador (na comunidade M´Boi Mirim) e o Programa de Apoio ao Paciente com Câncer, em que, por meio de ligações gratuitas (0800 773 1666), o paciente de qualquer lugar do Brasil pode tirar dúvidas a respeito de seus direitos, tratamentos e qualidade de vida.
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