Em comparação com a mamografia tradicional, o exame aumenta em 41% taxa de detecção dos tumores mamários invasivos.
A associação de mamografias em três dimensões com o exame tradicional digital mostrou ser capaz não só de detectar mais cedo tumores como reduzir significativamente os casos de falso positivos que exigem a reconvocação das mulheres para exames adicionais, muitas vezes invasivos e dolorosos. A conclusão é de estudo que analisou dados de quase 500 mil exames feitos nos EUA desde 2011, quando a mamografia 3D, também chamada tomossíntese, foi aprovada pela FDA, agência americana que regula remédios e alimentos, para ser usada em combinação com o exame padrão na detecção precoce do câncer de mama e publicado esta semana no “Journal of the American Medical Association” (Jama).
No estudo, médicos e pesquisadores de 13 hospitais universitários e privados dos EUA avaliaram o desempenho de seus programas de rastreamento e detecção precoce do câncer de mama com base na realização de pouco mais de 281 mil mamografias digitais e pouco menos de 174 mil vezes em que o exame tradicional foi feito em combinação com a tomossíntese. Segundo os cálculos deles, a associação dos dois exames, que podem ser feitos simultaneamente, aumentou em 41% a descoberta de casos de câncer de mama invasivo, os mais perigosos, e em 29% a detecção de tumores em geral enquanto diminuiu em 15% as reconvocações desnecessárias devido a falsos positivos quando comparada com a realização apenas da mamografia digital.
É a melhoria mais excitante na mamografia que já vi na minha carreira, ainda mais importante para as mulheres que a conversão da mamografia com filmes para a digital – comentou Emily Conant, uma das autoras do estudo e chefe do serviço de mamografia da escola de medicina da Universidade da Pensilvânia. A mamografia 3D encontra os casos de câncer de mama clinicamente significativos mais cedo, o que é fundamental para as mulheres terem mais opções de tratamento e, em última análise, de prognóstico para sua saúde.
Coordenadora do setor de mamografia do Centro de Diagnósticos Brasil (CDB), em São Paulo, Vivian Shibartche conta que unir a detecção precoce a uma menor taxa de falsos positivos é a principal vantagem da tomossíntese. Em maio de 2010, antes mesmo da aprovação pela FDA, o CDB foi a primeira instituição de saúde das Américas a oferecer o exame ao público em geral, e seus resultados foram citados pelos fabricantes dos aparelhos na obtenção da autorização de seu uso nos EUA.
Numa mamografia tradicional, todas as estruturas, pele, vasos sanguíneos, gordura, glândulas etc se somam na imagem – explica. - O problema é que a partir dos 40 anos a mama fica mais densa, então temos um monte de coisa branca uma em cima da outra. E como o tumor é branco também, temos muitas imagens suspeitas e falsos positivos. Já na tomossíntese as imagens da mama são fatiadas e não temos mais esta sobreposição. Além disso, agora posso enxergar tumores pequenos que antes ficavam escondidos por estas outras estruturas. Tudo isso se traduz em um diagnóstico mais precoce que é fundamental para a evolução da paciente e sua qualidade de vida.
Vivian acredita que no futuro todos os programas de rastreamento do câncer de mama deverão usar a tomossíntese, mas esta é uma realidade ainda muito distante no Brasil, diz Ricardo Caponero, oncologista e presidente do conselho científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama). Segundo ele, grande parte das mamografias realizadas no país pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ainda são “analógicas”, isto é, usam os tradicionais filmes de raios-X, embora em alguns locais já disponham da tecnologia digital. Por isso, conta, os focos da Femama ainda são melhorar a qualidade dos exames feitos no país e exigir o cumprimento da lei que dá prazo de no máximo 60 dias para realização da cirurgia de mastectomia parcial ou total após a confirmação do diagnóstico por uma biópsia.
De nada adianta fazer um belo programa de diagnóstico e não conseguir fornecer o tratamento adequado – afirma. E mesmo a mamografia 3D ainda depende muito da interpretação do médico, da experiência do radiologista, como acontece com a mamografia tradicional.
Fonte: O Globo
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