terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Conheça a história de Silvia contada por seu marido Elio

Minha história com a guerreia Silvia Petená , mãe, esposa e uma pessoa linda de alma e coração
Por Elio Petená

Bom, nossas vidas se cruzaram há quase 31 anos e tudo começou em uma festa junina da escola no colégio. Passamos a infância inteira morando na mesma rua e apenas algumas casas nos separavam, porém não nos conhecíamos.

Sua família decidiu mudar para Ribeirão Preto e ela morou na cidade por alguns anos, porém depois deste período resolveram voltar a São Paulo e, a partir daí, foi onde Deus fez que nossos caminhos se encontrassem.

Depois da festa junina onde me aproximei pela primeira vez, tivemos uma excursão para Campos do Jordão, que selou nosso inicio de relacionamento, foi quanto a pedi em namoro.

Foram praticamente 10 anos de namoro e noivado para podermos definitivamente nos casarmos. Vivemos intensamente cinco anos de muita felicidade, com amigos, família e viagens que ela adorava.

Depois deste período, mais maduros, resolvemos ter nosso primeiro filho e a Júlia nos foi concedida: linda e com muita saúde, iluminando ainda mais nossas vidas. Passado uns dois anos, recebi a melhor notícia da Silvia em um final deitardes de quarta-feira: eu iria ser pai novamente. Quase explodi de felicidade e aquele momento foi mágico, pois nossos planos sempre foram ter dois filhos.

Passaram-se os nove meses e recebemos a Beatriz, nossa segunda filha, também linda e com muita saúde. Pronto, agora estamos completos para uma vida completa onde planejávamos o futuro das meninas e o nosso, que era sermos pais cuidadosos, proporcionando o melhor para elas. Depois, pensávamos em outro estágio: sermos avós carinhosos com nossos netos , filhas e todos da família.

Mas o destino resolveu colocar alguns obstáculos em nossos planos e, em 2002, recebemos a notícia de que a Silvia, minha esposa querida, companheira e inspiração em minhas ações e objetivos, estava com câncer de mama.

Foi um choque e tanto, corri em vários médicos, procurei o melhor especialista na época, o Dr. Mourão, chefe da oncologia no AC Camargo, e iniciamos o tratamento. Não consigo nem pensar naqueles momentos, fico angustiado escrevendo estas palavras, pois a primeira cirurgia da Silvia foi radical e já foi feita a reconstituição da mama.

Meus Deus, dai-me força para estar presente em todos os momentos e dias que minha esposa precisar de mim, me ajuda a ser forte e passar com ela este momento de muita dor, sofrimento e superação da cirurgia! Ajuda-me Senhor!

Bom, minhas filhas, neste período, eram muito novas e não entendiam bem o ocorrido, mas viviam aquele momento da mãe e, nos olhinhos delas, eu podia ver o sofrimento e ali prometi de joelhos: Sílvia , Júlia e Beatriz, eu juro que nunca vou deixar de cuidar de vocês e que sempre estarei ao lado de todas no que precisarem, o papai ama tanto vocês e jamais deixarei esta família, seremos felizes e venceremos juntos nossos desafios.

Elas, ainda novinhas, me olharam e fizeram aquele rostinho com expressão de “tudo bem, papai”, vieram ao encontro de minha esposa e de mim e nos abraçamos longamente.

Passado alguns meses, iniciamos a fisioterapia e eu a acompanhava, para participar das atividades, ajudar e depois, em casa, apoiá-la nos exercícios para que tivesse uma recuperação mais rápida dos movimentos e sem muitas sequelas.

Começamos as sessões de quimioterapia e, meus Deus, para que tanto sofrimento? Não conseguia vê-la sofrer daquele jeito, com muitas ânsias e vômitos constantes. Sempre que podia, eu estava ao seu lado, abarcando e dizendo: “vai passar, você vai melhorar e não precisaremos passar mais por isso”. Isso com nó na garganta e lágrimas nos olhos, mas sempre mantendo a força e presente, pois eu sabia que nossa família era a base para superação dela.

Após o tratamento inicial, ela se recuperou muito bem e foi afastada dos tratamentos fazendo consultas de acompanhamento a cada seis meses – e assim ficamos por seis anos, onde nossa vida voltou a ser como antes.

Um certo dia, ela teve uma consulta de rotina e eu fui buscá-la no metrô. Entrando no carro, ela me olhou bem no fundo dos meus olhos e me disse: “Elio, estou com metástase”. O mundo caiu ali para mim, fiquei sem palavras e só queria abraçá-la. Mas, uma paz interior veio naquele momento ao ouvir ela me dizer: “Elio, obrigado por estar comigo, por não me abandonar e eu vou lutar e vou conseguir vencer este novo obstáculo. Conto com você, me ajuda!”.

Eu a abracei e disse: “Silvia, você é a mulher da minha vida e não existe nada que eu não faça para ficar com você, conte sempre comigo, eu te amo e estarei cada momento de sua vida ao seu lado”.

Então, começamos a preparar nossas filhas para mais esta fase de luta e sofrimento, porém sempre com a certeza de que sairíamos vitoriosos. Tivemos mais um ciclo de químios e outras drogas, visitas constantes ao hospital, crises após químico. Mas ela sempre ali, durona e decidida a ver nossas filhas crescerem. Eu precisava trabalhar para manter as coisas em casa, ela já não podia mais e teve que se afastar. Porém, ela, guerreira, fazia de tudo e não se abatia nem com as dores nos ossos tomados pela doença.

Foram mais oito cirurgias e ela sempre sorrindo e feliz – pois cada dia de vida era a mais importante vitória de nossas vidas.

Chegou um tempo que a carga da quimioterapia gerou uma intoxicação, o que afetou o funcionamento do coração. Por conta disso, ela ficou na UTI várias vezes, uma vez que apenas 20% do seu órgão vital estava funcionando. Foram vários problemas, como água nos pulmões, problemas renais, fígado e etc.

Mas, ela não desistiu! Eu parei de trabalhar e fiquei ao seu lado todo tempo, tanto no hospital como em casa. Como o coração da minha esposa não tinha força para bombear o sangue, começou a inchar e ficou muito difícil de se locomover e fazer as atividades básicas do dia a dias. Então, como prometido, fiquei ao seu lado, apliquei injeções diárias para evitar trombose, fazia massagem e exercícios para circulação e resolvi levá-la a uma cardiologista particular. Foi Deus que a colocou em nosso caminho. Após alguns meses de tratamento, a esposa que foi diagnosticada como não tendo mais nenhuma chance de voltar a andar, dirigir e ter o coração estabilizado, se recuperou. Sua superação foi algo divino e, sem dúvida, minha esposa sempre foi um exemplo de disciplina e foco. Graças a tudo isso, ela recuperou a saúde de seu coração, emagreceu rapidamente, andava normalmente, voltou a dirigir e fazia tudo que precisava novamente sozinha e com uma energia invejável.

Nossa, parecia que ela era indestrutível. E aí veio mais um motivo para ela se manter sempre forte: minha pequena iria fazer 15 anos e isso era a vida dela a partir daquele momento.

Começou a correr atrás de tudo para realizar esta festa, um ano e oito meses antes. Sozinha, sem me pedir nada. Chegou a data e tudo foi realizado dentro do que ela programou, nada deu errado e foi lindo. Minha esposa estava deslumbrante ao lado da minha filha e eu também não me aguentava de felicidade por ver minha filha fazendo 15 anos e minha esposa linda, feliz, com um sorriso lindo e dançando a noite toda. Sou o homem mais sortudo e feliz deste mundo. Obrigado, meu Deus.

Após tanta alegria, passado algum tempo, eu não me recolocava no mercado de trabalho. Po conta da idade, pelo menos era o que sempre ouvia. Tenho qualificações, tenho certeza que tenho, mas resolvi tentar outros caminhos, mesmo que tivesse que mudar. Sabia que não conseguiria mais o salário, cargo, etc. Minha decisão era permanecer com a Silvia e as meninas o máximo de tempo possível e assim o fiz.

Bom, gente, esta minha esposa é demais, iluminada e forte como um touro. Começou a trabalhar de casa com vendas, para me ajudar. Naquele momento, pude perceber que não podia mesmo viver sem ela, a pessoa que me entendia e me completava em tudo – ela até sabia minhas preocupações só de me olhar. E, não foi só isso: ela ainda conseguiu arrumar um emprego. Acreditem nisso, ela iria começar a trabalhar de novo.

Nossa, quanta alegria! Ela estava radiante, pois sempre foi executiva em banco, gerente de muita responsabilidade e funcionária dedicada. Então, voltar ao mercado depois de anos era a vida dela. Eu fiquei encantado em ver minha linda com os olhinhos brilhando e louca pra começar suas atividades.

Mas, o destino nos pregou outra surpresa: no segundo dia, ela passou mal e minha irmã teve que socorrê-la na estrada, a caminho do trabalho. A dor era tanta que ela não conseguia mais dirigir seu carro. Ela foi para o hospital e lá ficou por sete dias, até seu falecimento em 22/10/13: uma data que nunca mais irei esquecer, pois ali partiu a pessoa que me fazia ser forte e enfrentar os problemas.

Porém, tenho algo a acrescentar, que foi o que salvou minha vida: antes dela partir, um dia antes, ela chamou todos os entes queridos (quem estava longe, ela ligou e conversou) e, também, falou em particular comigo e minhas filhas. Ela me passou a seguinte mensagem:

“Elio, você fez o que pode, nós lutamos até o fim, mas não vou conseguir. Siga sua vida, não pare, pois confio em você para cuidar de nossas duas filhas. Eu te perdoo por tudo desta vida e quero que me perdoe também. Seja feliz, viva a vida de forma mais leve, enfrente os problemas sem aumentá-los. Vivemos uma vida juntos e você agora tem que viver a sua”. Então, eu disse: “mas como? Sem você, não posso” Ela me disse, sorrindo como sempre: “se vira nos trinta”.

Depois, ela chamou todo mundo em volta da cama e pediu para darem as mãos, fazerem uma oração e cartarem juntos uma música chamada CELEBRAR. No meio da música, ela me olhou e disse: “é para você, viva”.

Depois disso, eu nunca mais ouvi sua voz, vi seus olhos, seu sorriso e senti seu calor e afeto. Silvia, TE AMO E ESPERO QUE ESTEJA FELIZ, SEM DOR E SEM SOFRIMENTO.

Após o velório e sepultamento, abracei minhas filhas e choramos muito. Ouvi algo que fortalece ainda mais nossa ligação, que foi mais ou menos assim:

PAPAI, NÓS TE AMAMOS MUITO E SABEMOS O QUANTO ESTÁ SOFRENDO E TENHA CERTEZA QUE NUNCA VAMOS ESQUECER TUDO QUE VOCÊ FEZ PELA MAMÃE E ELA SEMPRE TE AMOU MUITO E NÓS TAMBÉM, PORQUE SABEMOS QUE NÃO FOI FÁCIL E MUITOS PAIS DE AMIGOS NOSSOS DEIXARAM A FAMÍLIA E ISSO SE O SENHOR TIVESSE FEITO JAMAIS NÓS O PERDOARÍAMOS.

A partir destas palavras, senti um alívio no meu peito, me veio uma paz interior e entendi que passamos por uma grande lição de vida e que nos temos que amar ao próximo e sempre cuidar daqueles que necessitam.



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